segunda-feira, 30 de maio de 2011

Des Sauvages

Interessante que certas textos históricos nos remetem a momentos contemporaneos!

Entendeis por selvagens certos aledões que vivem em cabanas com suas mulheres e alguns animais, incessantemente expostos à inclêmencia das estações; que não conhecem nada além da terra que os nutre, e o mercado aonde às vezes vão vender seus produtos e comprar alguma roupa rústica; que falam um linguajar que nas cidades não se entende; que têm poucas idéias e, por conseguinte, poucos instrumentos para expressá-las; que são sujeitos, sem que saibam por quê, a um funcionário a quem levam todos os anos a metade do que ganharam com o suor do rosto; que se reúnem certos dia buma espécie de celerio para celebrar cerimônias de que não entendem nada, ouvindo um homem vestido diferente deles a quem não compreendem; que de vez em quando deixam suas cabanas ao rufar do tambor para serem mortos uma terra estrangeira e matar seus semelhantes pela quarta parte do que poderiam ganhar ficando a trabalhar na sua casa?
De selvagens como esses a Europa está cheia. É preciso reconhecer que as populações do Canadá e os cafres, que nos comprazemos em chamar de selvagens, são infinitamente superiores aos nossos. Os hurões, os algonquinos, illinois, os cafres e os hotentotes têm a arte de produzir sozinhos tudo de que necessitam: uma arte que os nossos aldeões não possuem. As polulações da América e da África são livres, os nossos selvagens nem sequer têm idéia de liberdade. Os chamados selvagens da América conhecem a honra, de que nossos selvagens da Europa nunca ouviram falar. Tem uma pátria, amam-na, defendem-na; estipulam tratados; batem-se com coragem e muitas vezes se exprimem com uma heróica energia.

Voltaire, Filosofia da História - 1765

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